A doença - Catarina
Na verdade não sei quando deixei de estar a fazer dieta e passei a estar doente. Inicialmente comecei a saltar refeições. Saia da escola dizendo que ia almoçar a casa, chegava a casa e não comia nada. Se, por acaso, a minha mãe já estivesse em casa dizia que tinha almoçado na escola. Comecei também a deixar de jantar. Como os meus pais tinham um restaurante na altura chegavam sempre depois da hora de jantar. Tínhamos sempre comer feito no frigorífico pelo que só tínhamos de o aquecer. Eu dava-me ao trabalho de tirar comer para um prato e deitar tudo na sanita. Assim os meus pais viam a loiça suja no lava-loiça e notavam que havia menos comida no tupperware.
Comecei também a evitar o autocarro e a caminhar o percurso entre escola e casa. Entre Setembro e Novembro perdi imenso peso. Lembro-me de me pesar quase diariamente e de todos os dias a balança marcar menos. Em Novembro a minha mãe resolveu levar-me ao médico porque achou que eu tinha emagrecido bastante. Na altura tinha perto de cinquenta quilos e a médica desvalorizou a minha perda de peso. Acho que era normal eu começar a ter uma preocupação com o meu corpo mas não viu sinais alarmantes até porque lhe menti e disse que comia de tudo. Continuei a perder peso e em Dezembro deixei de ter menstruação. Consegui esconder o assunto da minha mãe mas no mês seguinte ela percebeu o que se passava. Tornou a levar-me à médica que ficou um pouco alarmada por eu ter perdido mais quatro quilos em apenas dois meses. Sai do médico com prescrição para fazer análises e com nova consulta para quinze dias depois. Quando voltei já tinha menos dois quilos e as análises estavam com alguns valores alterados. Fomos encaminhados para a especialidade mas teríamos que esperar que nos indicassem a data da consulta.
Enquanto isto ia de mal a pior, passei de comer pouco para não comer nada. Passava ao dias sem comer, fazia imenso exercício, deixei de conseguir dormir. Deitava-me na cama à espera que os meus pais fossem dormir e assim que os ouvia a dormir levantava-me. Passava a noite a ver televisão, a jogar jogos ou simplesmente a contabilizar a quantidade de comer que tinha ingerido e a planear o que poderia comer no dia seguinte. Entretanto uma prima arranjou através de uma amiga o nome de uma especialista em Santa Maria. A psicóloga amiga teve até amabilidade de escrever uma carta para entregarmos em mão à doutora. Recebemos a carta e esta ficou pousada no móvel da entrada. No fundo havia a esperança que eu conseguisse dar a volta por cima mas essa esperança acabou por desaparecer pouco depois. Lembro-me de acordar na minha cama com o sol a raiar. Estranhei ter conseguido dormir, levantei-me e comecei a sentir-me mal disposta. Pensei que era melhor comer alguma coisa, não me recordava quando tinha sido a ultima vez que tinha comido algo. Coloquei uns cereais daqueles integrais na boca e senti-me desfalecer. Tentei correr para a casa de banho e gritei pela minha mãe. Só me lembro de perder as força e começar a vomitar. Senti a minha mãe a apoiar-me e consegui chegar à sanita. Vomitei imenso, o vómito tinha uma cor esverdeada e um cheiro indescritível.Queimava tudo por onde passava, sentia todo o meu esófago a arder. Era de tal forma acido que tirou todo o brilho ao chão no sítios onde caiu. Quando finalmente acabou os meus pais levaram-me para a cama deles. Deitei-me no meio deles como quando era pequena e tivemos uma longa conversa. Melhor dizendo eles falaram e eu chorei o tempo todo. Eles explicaram-me que não podia continuar assim e que me iam levar ao hospital. Vestimos-nos e fomos fazer plantão à porta do serviço para falar com a doutora. Quando a doutora chegou explicaram-lhe que estávamos à espera dela e ela mandou-nos entrar...''