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Duas Bloggers, Duas Histórias, Uma Doença : A Anorexia.

Duas bloggers, irmãs na doença, juntaram-se num só blog para contarem as suas vitórias. O nosso objectivo será sempre ajudar (se possível) quem esteja a passar por esta doença... a anorexia!

A ignorância da falta de informação

''Tiveste anorexia porque quiseste''

Se há coisa que me irrita e me deixa fula da vida, é quando ouço uma coisa destas! E, provém muitas vezes de pessoas que me eram chegadas na altura...
''Ah. Naquela altura em que tinhas as manias das dietas?'' 
Qual a parte que as pessoas não percebem de que não é uma dieta e muito menos é uma mania?!
Como é possível ainda existir tanta falta de informação e de sensibilidade ?! Vocês não imaginam o possessa que fico quando ouço destas pérolas! E sim, ouço-as mais vezes do que imaginaria...
Foi, por coisas destas, que eu e a Catarina tentamos  desmistificar um pouco essa doença.  Porque ouvir estas coisas, magoa. A serio, magoa mesmo! Parece que nos culpam por termos estado doentes. Que somos nós as culpadas por ela existir.
EU NÃO TIVE  ANOREXIA PORQUE QUIS. EU NÃO ESTIVE DE DIETA! 
Vocês pensem bem quando falam...imaginem que um filho vosso tem esta doença. Vocês vão continuar a agir assim, com ignorância?  Por favor não o façam! Não irá ajudar. Muito pelo contrario!  Tentem informar-se um pouco. Se não ajudam, não atrapalhem. (Sim, acreditem que pode atrapalhar muito na recuperação de alguém com anorexia). A anorexia é uma doença e deve ser tratada como tal. 

O internamento (Catarina)

O internamento foi uma experiência dolorosa.  Fiquei sozinha num ambiente desconhecido.  Felizmente tinha duas companheiras de quarto, ambas com anorexia, que me acolheram e reconfortaram. Aos poucos fomos desenvolvendo amizade o que fez com que não me sentisse tão desamparada. O pior foi quando no primeiro fim-de-semana elas tiveram autorização para ir a casa e eu tive que ficar sozinha. Foi-me explicado que durante 15 dias não poderia sair do hospital o que significava que, entre o fim de tarde de sexta-feira e a noite de domingo estava entregue aos meus pensamentos. Também não podia ter telemóvel, precisava de permissão para fazer chamadas do telefone do serviço e os meus pais só me podiam ligar à noite.

Em parte até me sentia aliviada por não ter que falar com eles porque afinal a conversa acabava sempre da mesma forma. Acabava por falar com eles mais porque sabia que o Rodrigo passava todos os dias lá em casa para saber de mim. Era dele que mais sentia falta. Era o meu companheiro, o meu confidente. Para além de namorado era o meu melhor amigo, no fundo, acho que era o meu único amigo porque tratei de afastar os restantes.

Os dias passavam devagar. Contávamos as horas para a próxima refeição, comíamos e esperávamos pela seguinte. Nos intervalos entre  as refeições falávamos, riamos, brincávamos. Eu aproveitava para ler, pintar e escrever cartas que enviava pelos correios para o Rodrigo. Também recebia cartas dele, que lia e relia vezes sem conta.  Ainda as tenho todas guardadas com muito orgulho.

Todas as quintas-feiras tínhamos que nos pesar, antes do pequeno almoço, para ver o aumentado de peso.  Aprendemos a boicotar um pouco as pesagem na esperança que isso significasse que iríamos para casa mais cedo. Íamos para a balança de bexiga cheia e bebíamos um litro de água antes.  Todas as gramas interessavam para chegarmos ao peso que nos permitiria ir para casa.

A nossa relação com a comida continuava a ser problemática. As refeições demoravam uma eternidade e eram feitas em silêncio.  Nós esforçávamos-nos para comer tudo mas era difícil. Eu aprendi a fazer batota também na comida. Deitava o iogurte do meio da manha inteiro para o lixo.  À noite  fingia que estava a dormir quando me vinham dar a ceia, assim deixavam-me um pacote de leite que eu despejava pelo ralo do lavatório.

Apesar das falcatruas o peso ia subindo. As minhas amigas tiveram alta e coube-me a acolher outras meninas. Ao mesmo tempo vim a conhecer uma homónima que frequentava as consultas externas. Travamos uma amizade instantânea. Ela ia visitar-me muitas vezes, contava-me tudo o que estava a passar. Eu tentava dar-lhe coragem para pelo menos tentar aumentar um pouco o peso. Nunca tinha visto ninguém tão magra, tinha quase um metro e oitenta e pesava quarenta quilos.

Mais tarde invertemos papeis. Eu tive alta e ela acabou por ser internada.  Passei a ir eu visita-la. Contudo esteve lá pouco tempo porque recusou o tratamento. Como já era maior de idade não poderia ser mantida contra a sua vontade.  Recebi, uns dias mais tarde, uma carta por parte dos pais a informarem-me que tinha acabado por sucumbir à doença. Chorei.  Julguei-me uma má amiga por não ter sido capaz de a ajudar. Senti-me revoltada pela forma como a carta reflectia um certo alivio por parte dos pais. Depois percebi que deve ter sido um alivio para aqueles pais. Deixaram de ver a sua filha a morrer um bocadinho de cada vez. Deixaram de tentar incutir-lhe juízo. Deixaram de ter medo que morre-se caída nalgum canto.

Esta história não é nossa, mas é de uma das nossas...

Esta história não é nossa. Não fomos nós que passamos por isto. Mas, foi uma das nossas! Uma das que superou... Deixamo-vos com a história da Vanessa:

 

"A minha história foi muito oscilante porque sempre fui gordifas e um bom garfo, todavia, não me encaixava nos cânones da vila onde vivia: todas eram morenas, adelgaçadas e de olhos verdes. Eu era o oposto. Sempre quis ser igual as meninas de lá porque apaixonei-me por um tipo muito bonito e a beleza era tudo para ele, todavia, sempre fui gordifas (até me refugiei mais na comida) ! Depois estive noiva sete anos; família pacata, sem julgamentos, namorado que me amava... Sou nortenha; por norma come-se muito por lá ! Sempre fui um garfo exageradamente saudável ! Comia Francesinhas a pacotes ! Comecei a emagrecer quando a relação acabou: perdi o apetite e queria ir conquistar o outro que só queria saber de beleza e para isso era preciso eu ser magra e, óbvio, perdi o apetite.

Não, eu estava sozinha no mundo !

Numa discussão sai de casa e passei a viver em quartos alugados e a trabalhar como empregada de mesa, consequentemente, trabalhava que nem uma moura e vivia sem comer e sem ter fome, todavia, nunca quis ser acompanhada por um médico mas ainda me derigi a psiquiatria as urgências algumas vezes e ai encontrei uma miúda que também sofria de anorexia, boa aluna, filha de professores, muito bonita.... Amas adoecemos com infeções nos pulmões na mesma atura (em inícios de 2009) por não termos quaisquer defesas no corpo ... Eu estava uma lástima. Não conseguia respirar e o meu patrão até colou na cabeça que poderia ter tuberculose: só tossia, respirava com dificuldades e conseguias ouvir-me a respirar a kms de distância tal era a chiadeira... Tive o inicio de uma pneumonia e não tinha defesas para combate-la mas miruculosamente combati-a.

A miúda de 15 anos não resistiu: faleceu, perante uns pais agonizados e incrédulos que viram a sua filha morrer !

A mãe que é professora de psicologia redigiu um livro acerca da doença da filha e de como foi encarar a morte dela.

Também me ajudou na minha luta pessoal. Vê-la morrer fez-me engordar em seis meses para 62 kilos" #HOTDEVIL