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Duas Bloggers, Duas Histórias, Uma Doença : A Anorexia.

Duas bloggers, irmãs na doença, juntaram-se num só blog para contarem as suas vitórias. O nosso objectivo será sempre ajudar (se possível) quem esteja a passar por esta doença... a anorexia!

Anorexia... Porquê?

Ora, certamente não terá sido porque um belo dia de manhã acordamos e pensamos "E hoje que me estava a apetecer tanto padecer de uma anorexia nervosa..."  Nem tão pouco é porque nos deitamos a rezar a Deus Nosso Senhor por uma anorexiazinha como dádiva! E não, também não a pedimos ao menino Jesus nem ao Pai Natal. 

 

 

Jamais poderei falar por todos os doentes de distúrbios alimentares, cada caso é um caso e cada um sabe onde lhe aperta o sapato (sapatilha, bota, sabrina, wathever...). A verdade é que existem sempre algumas coisas com as quais nos identificamos uns com os outros. Em todos, existe uma péssima relação com a comida (oh, really?!) e, no caso da anorexia, uma visão errada relativamente ao corpo. Muitas das vezes, nós olhamos ao espelho e vemos uma realidade diferente da que uma pessoa sem anorexia verá... Nós NUNCA nos vemos magras, lindas e maravilhosas! Por muito magras que estejamos, conseguimos sempre encontrar banhas em algum lado (elas podem nem existir, mas nós vemos!)

E reforço, não é uma dieta! Muito pelo contrário, é uma ausência cada vez maior de alimentos. E, apesar de ser mais comum em pessoas do sexo feminino, não é uma doença somente nossa!  Aliás, tendo em conta as redes sociais e a busca pelo corpo perfeito, acho que cada vez mais os adolescentes irão sofrer de distúrbios alimentares independentemente do sexo. Até porque os miúdos são cada vez mais maldosos até na internet (miúdos e gente grande a ser parva, também!) e aproveitam que são os melhores do mundo atrás de um telemóvel ou de um pc...  (isto sou eu a escrever e não nenhum cientista... Pensamentos meus!) 

 

 

Prever? Não se prevê. Os pais ainda não são o Bruxo de Fafe nem a Maya para preverem um distúrbio num filho... Mas acho que têm de estar atentos ás redes sociais dos filhos (o bullying muitas vezes contribui para uma baixa auto-estima e para um desequilibro da pessoa) e ver a malta em casa, como andam, o que comem, etc.

Como ajudar? Não desvalorizar, não culpar a pessoa, não serem imbecis, apoiarem, incentivarem, elogiarem, acarinharem... e, fazer com que vá ao médico, de mansinho, como fazemos quando queremos levar uma criança ao dentista! E tentem perceber em que fase a pessoa está em termos psicológicos... acima de tudo isso. 

 

Beijinhos e abraços destes ossinhos agora com gordurinhas, marcado com estrias e celulite... 

Anorexia e a Pandemia - Reportagem Notícias Magazine

Estou a tentar voltar aos meus blogs... Desta forma, optei por vir aqui também dar um "oi" . 

Nem eu nem a Catarina acabamos com o blog ou com a preocupação em ajudar quem passe/passa por este problema (muito pelo contrário!). Mesmo em off já fizemos uma reportagem e também temos respondido a alguns emails que nos mandam... Da nossa parte, obrigada! Porque realmente é muito bom saber que podemos ajudar. 

Apesar de alguns erros na reportagem, pois foi por telefone e a ligação era um tanto ou quanto mázinha, acho que está o essencial! 

Cá vai a mesma:

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O confinamento fez disparar os pedidos de ajuda de doentes com perturbações do comportamento alimentar, anorexia em concreto. Os conflitos familiares e a desregulação das refeições explicam as recaídas de quem tem uma relação patológica com a comida. A luta contra o insustentável peso da magreza até à cura, na primeira pessoa.

 

“Ainda hoje, quando me olho ao espelho, acho que estou bem.” Ana Beatriz, 16 anos, luta há três contra a anorexia nervosa. Pesa 41 quilogramas (kg), tem noção de que sofre de uma doença grave e que precisa de comer e ganhar peso para segurar a vida. Porém, algo tão instintivo para a maioria de nós é uma tormenta para Ana Beatriz. E agora, sem aulas, confinada com a família, a ansiedade é palpável.

Depois de muitos altos e baixos, Ana Beatriz diz-se “estagnada”. No peso, que persistentemente não aumenta, nos sonhos – “não consigo imaginar o que poderei vir a ser”. O discurso é racional e estruturado. Aceita a doença que a acometeu, como um vírus que se lhe agarrou à pele e contra o qual luta todos os dias, todas as horas. A anorexia é vivida a tempo inteiro. Relata, quase com objetividade distante, o que se passa no corpo, a fraqueza, a amenorreia, a sensação de frio extremo a ponto de a fazer chorar de dores.

Nem sempre foi assim. Até aos 13 anos, comia normalmente. Pesava 53 kg e media 1,65 m – mais ou menos a altura que tem agora porque a severa privação alimentar travou o crescimento. “Desenvolvi-me mais cedo do que as minhas amigas. Comecei a comparar-me com elas e a achar que estava gorda. Resolvi reduzir nos açúcares, evitar certos alimentos mais calóricos, ter mais cuidado com o que comia.”

Era o início, insidioso, de uma doença que embora tenha uma incidência relativamente baixa (0,3 a 0,4% da população) assume uma gravidade clínica extrema, pelas sequelas a longo prazo, e porque pode conduzir à morte, seja por desnutrição, seja por suicídio (é a perturbação mental com a taxa mais elevada). Afeta sobretudo meninas (90% dos casos) com traços de perfeccionismo, obstinação e baixa flexibilidade.

A evitação de certos alimentos rapidamente escalou para uma restrição generalizada. O peso de Ana Beatriz começou a cair a pique e não passou despercebido à família. “A minha mãe, que costumava ir comigo às aulas de natação, notou que eu estava cada vez mais magra. Levou-me à pediatra, que aconselhou os meus pais a vigiar a situação.” Nessa altura, pesava 46 kg e já recorria a todo o tipo de estratégia para evitar comer. “De manhã, escondia a comida nos bolsos ou na mochila e depois deitava fora. Quando almoçava na escola, dizia sempre que não gostava da comida e não comia. O pior era ao jantar. Chorava quase todos os dias porque achava que a quantidade de comida que os meus pais me queriam obrigar a comer era sempre exagerada.”

 

“Sentia-me confortável com o meu peso”

Como continuava a perder peso, os pais procuraram ajuda e foi referenciada para psiquiatria. O diagnóstico de anorexia nervosa caiu que nem uma bomba no seio da família. “Nunca acreditei que tinha esse problema. Sentia-me bem, confortável com o meu peso. Achava que não precisava de comer. Às vezes, até sentia fome, mas não a ponto de querer comer. Ainda hoje é assim. E é isso que me impede de recuperar”, reconhece Ana Beatriz.

A fase mais negra foi em 2019, quando foi internada. Pesava 43 kg. Passou seis longas semanas no Hospital de Magalhães Lemos, no Porto. “O peso aumentou, mas a cabeça não acompanhou. Comi porque queria sair de lá, embora todos fossem cinco estelas. Saí com 48 kg. Quando regressei a casa, voltou tudo ao mesmo.” O confinamento de 2020 foi vivido sob pressão máxima. E este também potencia a ansiedade. Mas está alerta, consciente dos riscos. Quer recuperar a saúde. A vida. “Houve uma fase em que não gostava nada de mim. Estou a descobrir a minha força.”

Joana Saraiva, pedopsiquiatra do Centro Hospitalar e Universitário do Porto, confirma o impacto da pandemia em quem sofre de perturbações do comportamento alimentar: “Nestes últimos meses, o número de pedidos de novas consultas disparou e muitas jovens que já se encontravam clinicamente estáveis viram o seu estado agravado, até porque houve uma dificuldade acrescida em dar resposta em termos de consulta presencial/internamentos”. Mais horas em casa, mais desgaste, mais conflitos, também devido a questões alimentares.

“Mesmo em adolescentes previamente saudáveis, o confinamento que ocorreu durante a pandemia levou, como é obvio, a um maior isolamento, impediu a frequência da escola e de atividades extracurriculares e fez com que muitos indivíduos ficassem mais centrados na alimentação.” Acresce o quadro de maior ansiedade que contribui para a “desregulação emocional que, muitas vezes, acaba por ter ligação direta com a ingestão alimentar”, explica a psiquiatra da infância.

 

“Ainda agora ando a tratar o que estraguei”

Aos 32 anos, Vânia Garcia aprendeu a lidar com a doença cujos primeiros sintomas surgiram aos 16. Na altura, na pequena localidade do concelho de Tomar onde ainda vive, ninguém sabia o que era anorexia. Mas quando deixou de comer e perdeu 20 kg em poucos meses – com 1,73 m, atingiu os 50 kg -, a mãe levou-a à médica de família, que colocou um nome no sofrimento da adolescente. Como a maioria dos que padecem dessa perturbação, entrou em negação. Não aceitava que estava magra, não percebia por que a queriam forçar a alimentar-se. “Nessa fase, tornei-me uma mentirosa profissional para evitar comer.”

Foram quatro anos a debater-se com o peso, que deixaram mazelas. “Estraguei muito o meu corpo. Tenho um estômago frágil, uma hérnia do hiato, os dentes e o cabelo ficaram fracos. Ainda agora ando a tratar o que estraguei. As consequências ficam para a vida.” Quando olha para trás, compreende que traços de personalidade, como o perfeccionismo e a falta de autoestima, contribuíram para o quadro clínico. “Procurava um ideal. Tinha pavor de engordar. Queria gostar mais de mim, mas nunca me sentia bem.”

Por volta dos 20 anos, começou a gerir melhor a relação com a comida, complicada desde menina. Pensou que estava curada até que, oito anos depois, a crise emocional provocada por uma separação fê-la regressar à distorcida zona de conforto da anorexia. Deixou de comer e o peso afundou. Andou assim uns meses, recuperou sozinha – nunca teve, aliás, ajuda especializada – até 2019. Um pico de stresse no trabalho, nova recaída. “As pessoas voltaram a dizer que eu estava muito magra, mas eu nunca me sinto magra”, admite. No ano passado, durante o confinamento, engordou e o pânico regressou. “Comecei a correr para não engordar. Passei a usar essa estratégia. Tenho medo de voltar a descontrolar-me, tenho sempre medo de engordar. Não acredito que a anorexia se cure, lida-se com ela, aprendemos estratégias. Mas lutamos sempre com a visão distorcida de nós próprios.”

 

As estatísticas mostram que metade dos doentes recupera totalmente, sustenta Joana Saraiva, acrescentando que “à medida que o tempo vai passando, a probabilidade de recaída diminui”. No entanto, períodos de grandes mudanças e/ou exigências emocionais poderão trazer de novo alguns sintomas. “Há que estar atento e atuar de imediato.”

 

“Não é uma escolha, é uma doença”

Quando milhares de famílias estão forçadas a estar juntas, 24 sobre 24 horas, o potencial de conflito agudiza-se. A adolescência é a fase de maior risco. “É quando se constrói a autonomia, definem-se limites, começa a experienciar-se o corpo e a fazer-se comparações”, refere Cristina Pontes. Esse é processo de desenvolvimento normal. A anorexia nervosa surge geralmente no fim de infância e na adolescência. “Não é uma escolha, é uma doença. Ninguém escolhe emagrecer até aos 30 kg”, sublinha a psicóloga, que trabalha há 13 anos com estes doentes no Centro Hospital e Universitário de São João, Porto.

 

Sendo uma patologia que distorce a perceção corporal e corrompe a cognição e sentimentos, a adesão ao tratamento é o maior desafio. Há um desfasamento entre o que a razão sussurra e o que as emoções gritam. Nos casos mais extremos, o internamento pode ser a diferença entre a vida e a morte. Catarina Reis esteve dois meses hospitalizada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Tinha 16 anos e debatia-se com a anorexia desde os 14. Chegou a pesar 38 kg. “Eu não aceitava que tinha de comer. Os meus pais não entendiam que eu recusasse a comida. As quezílias eram constantes. Senti que o Mundo estava contra mim”, recorda.

 

Curada desde os 20 anos e mãe de quatro filhos, Catarina Reis diz: “A anorexia é como uma dependência. Não comer era o meu vício”
(Foto: Gerardo Santos/Global Imagens)

No hospital, aprendeu a negociar. Um quilo para falar ao telefone, mais um quilo para ter visitas – tudo plasmado num acordo que tinha de cumprir para ter alta. “Comi para sair de lá o mais rapidamente que consegui.” De regresso a casa, volta o frio na barriga na hora da balança. Valia tudo para não aumentar de peso. “Houve uma altura que tinha insónias e, durante a noite, via televisão e andava na sala de um lado para o outro para queimar calorias.” Resume: “A anorexia é como uma dependência. Não comer era o meu vício”.

Foram mais alguns anos assim, até que, aos 20 anos, um apelo desesperado do namorado, agora marido e pai dos quatro filhos, finalmente fez soar o clique da mudança. Desde essa idade que está curada. Criou com Vânia, “a irmã na anorexia”, o blogue “Duas bloggers, duas histórias, uma doença”, para dar a conhecer que é possível vencer a patologia.

Mãe e ex-anorética, conhece a necessidade de os pais estarem atentos, mas sem criar demasiada pressão. “Sentarem-se à mesa, de olhos fixos, não ajuda quem está a fazer um esforço para comer.” Fernando Correia, pai de Ana Beatriz, sentiu na pele o dilema entre querer alimentar a debilitada filha – “todos os dias tinha medo de receber um telefonema com más notícias…” – e confiar no processo terapêutico. “Agora, evito falar do assunto para não a pressionar, mas estou presente para o que ela precisa”, conta este pai que até se contorce em posturas de ioga para acompanhar a filha.

 

Negociar uma bolacha ou meia batata

Quando um filho adoece, toda a família sofre. No caso da anorexia, há um enorme capital de culpabilização por parte dos pais que é fundamental reverter. José Camolas, nutricionista do Santa Maria (Lisboa), fala da dificuldade de conciliar as expectativas dos progenitores (que avaliam como insuficiente a quantidade de comida prescrita) e aquilo que os doentes são realmente capazes de ingerir. “Estamos a falar de negociar pequenas quantidades. Se não come arroz nem batata, a proposta pode ser uma colher de sopa de arroz ou metade de uma batata. Se só bebe uma chávena de leite, acrescentar uma bolacha ou um quarto de pão. A reposição alimentar tem de ser muito gradual para permitir a adaptação física (muitos doentes ficam indispostos quando voltam a comer mais) e evitar a rejeição emocional”, exemplifica. “Por vezes, é preciso pedir aos pais que saiam da consulta, o que é terrível para eles. Mas o trabalho do nutricionista passa por criar uma relação de confiança com o paciente.” Com a pandemia a desregular os hábitos alimentares (“houve uma verdadeira epidemia de produção de pão e bolos em casa”) e a limitar os contactos com os pacientes, há mais recaídas.

 

A anorexia assume uma expressão clínica mais dramática, mas há outras perturbações do comportamento alimentar. A bulimia, por exemplo, é mais prevalente (atinge 1 a 1,5% da população, maioritariamente mulheres), mas passa mais despercebida porque os pacientes geralmente mantêm um peso normal. “É muitas vezes vivida em segredo, os doentes mantêm a doença em privado, a família e os amigos não reconhecem o problema. Às vezes, sofrem sozinhos durante anos. Consideram que conseguem resolver sozinhos o problema ou sentem vergonha em recorrer ao psiquiatra”, destaca Isabel Brandão.

A princesa Diana debateu-se anos com a bulimia. Na última temporada da série “The Crown” são evidentes os episódios de ingestão descontrolada seguida da indução de vómitos. “Trata-se de uma condição de vida que traz muito sofrimento psicológico. São doentes em que há maior prevalência de depressão, assim como de suicídio”, refere a psiquiatra do S. João.

Na solidão de um sofrimento tão incompreensível para o outro, estas doenças transformam-se quase na “melhor amiga”, diz Cristina Pontes. O resgate dessa perigosa zona de conforto é o caminho para a cura.

 

Doenças e comportamento alimentar

Anorexia nervosa

• Caracteriza-se por pavor de engordar e uma distorção da imagem corporal, que leva a que, mesmo estando com peso muito baixo, estes doentes não se sintam magros e recusem, por isso, alimentar-se
• Atinge sobretudo raparigas dos 13 aos 15 anos

Fatores de risco: características individuais (genética, personalidade) e familiares e fatores socioculturais (ideal de magreza, pressão dos pares, dos media)

Sinais de alerta: acentuada perda de peso, recusa de comer, estratégias para evitar as refeições e dissimular a perda de peso

Cura: 50% dos casos. As hipóteses de recaídas decrescem com o tempo, mas fases de maior stresse podem espoletar episódios

 

Bulimia nervosa

• Ingestão alimentar compulsiva seguida de comportamentos compensatórios, como longo jejum, excesso de exercício físico, vómitos ou laxantes. Subjaz o medo de engordar, mas ao contrário da anorexia, não se caracteriza por magreza patológica
• Afeta mais mulheres, a partir da adolescência e pode manter-se na vida adulta

Fatores de risco: aumento de peso na infância, insatisfação com o corpo na adolescência, doença psiquiátrica dos pais

Sinais de alerta: como conseguem manter um peso normal, estes doentes passam mais despercebidos. É importante vigiar oscilações de peso e eventuais comportamentos compensatórios.  "

by: Notícias Magazine